UM TURISTA DAS ARÁBIAS
Autor: Lucas de Sousa Justino - 2ª série EM - EE Prof. Itael de Mattos - DER de Jales
Que o consumo de drogas por jovens e adolescentes não é mais novidade no Brasil a maioria de nós já sabe. Minha terra natal, Santa Fé do Sul, não se destaca por ser uma exceção. Localizada no noroeste paulista, a cidade com o título de Estância Turística recebe visitação devido a sua bela orla; contudo, o município tem um “novo velho” turista que traz, em sua bagagem, perigos desconhecidos: trata-se do Narguilé.
O estranho objeto do século XVII chegou ao Brasil junto com as primeiras famílias árabes e se difundiu pelo país nos últimos anos, tornando-se indispensável em festas e encontros de muitos jovens. O narguilé ou narguilê, apesar de descendência oriental, não deixa de ser algo bem conhecido da cultura brasileira: o tabagismo.
O apelidado “cachimbo d’água” consiste em um vaso, no qual é depositada água e carvão em brasa, para que se realize a combustão do fumo aromatizado, originando uma fumaça que chega ao pulmão do usuário por meio de uma mangueira. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma rodada de Narguilé pode equivaler ao consumo de aproximadamente cem cigarros. Além de oferecer risco de contágio por vírus e bactérias, uma vez que seu uso é coletivo, há a já conhecida probabilidade de desenvolver câncer proporcionada pelo tabaco.
Entretanto, essa forma “sofisticada” de inalar uma velha droga traz consigo artifícios que, talvez, sejam tão eficazes em assegurar seu uso quanto o vício. A integração social originada pelo Narguilé é capaz de tornar a prática cada vez mais popular. É fácil identificar em praças ou esquinas da cidade rodas nas quais jovens se reúnem em torno dele, conferindo a estes uma sensação de acolhimento no grupo. Os aromas também funcionam como um mecanismo convidativo. As essências, a maioria de frutas, mascaram o forte odor do fumo, e aquilo que apresentava um cheiro desagradável, assume o doce aroma de morango. Mesmo com a proibição da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o tabaco aromatizado,
que deverá deixar de ser comercializado a partir de março de 2014, já tem substitutos que podem realizar as mesmas funções, como o whisky e outras bebidas que são colocadas no lugar da água, provocando danos ainda mais graves.
A meu ver, o Narguilé é apenas mais um integrante das chamadas “drogas lícitas” de consumo comum por grande parte dos adolescentes santafessulenses. Por conta disso, devemos explorar novas estratégias para transformar a realidade que enfrentamos hoje.
Justificar o repúdio a ele baseando-nos em comparações com o cigarro não é a maneira mais eficaz de agir, pois, de certa forma, estaremos enaltecendo inconscientemente outro vilão da saúde.
Tenho convicção de que o combate ao “turista das arábias” carece de medidas eficientes que o impeçam de tornar-se intrínseco à cultura dos jovens e algo tradicional não só em minha cidade, como no país inteiro. Portanto, é sensato interceptarmos os vícios iniciais para que possamos neutralizar a evolução dessa droga, e de outras substâncias que causam dependência. A construção da identidade moral e ética do adolescente cumpre um papel importante para definir aspectos de seu comportamento quando inserido em ambientes que apresentam usuários ou consumo do cigarro oriental. A influência do grupo em suas decisões só acontecerá quando o jovem não apresentar capacidade de julgamento, instituída por valores primários estabelecidos pela família e pela escola, que devem trabalhar em conjunto durante a formação desses cidadãos.
Seria maravilhoso se pudéssemos aplicar fórmulas matemáticas a problemas da sociedade para obtermos resultados exatos. Sim, seria a solução para inúmeras dificuldades que vivenciamos. Contudo, quando nos referimos a pessoas, devemos considerar as particularidades e limitações de cada um, além de diversos fatores que interferem em suas escolhas. Teorizar soluções que resolvam questões como o uso do Narguilé torna-se tão difícil quanto executá-las, mas fechar os olhos para esta realidade e abraçar a negligência enquanto jovens deixam suas vidas escaparem em meio à fumaça, definitivamente, não é uma opção
aceitável. Pelo menos não para mim. E para você?
Orientação do prof. Célio Tizzo, de Língua Portuguesa.
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