FILME: MUITO ALÉM DO JARDIM (Being there - 1979) - direção de Hal Ashby

O filme conta a história de um homem ingênuo, Chance Jardim, que passou quase toda a vida trabalhando como jardineiro e recebendo informações sobre o mundo apenas pela televisão. Quando seu patrão morre, a empregada vai embora e Chance é despedido da casa pelo advogado do proprietário morto.
Andando pela cidade, com uma mala e seu controle remoto, a personagem sofre um acidente com o carro de um magnata da cidade. Após isto, é levado pela mulher do mesmo para receber cuidados médicos, uma vez que ela tem medo de que Chance denuncie Rand e cobre dele quantias exorbitantes como ressarcimento dos danos causados.
Chance passa a viver na casa de Rand, onde recebe tratamento do médico da família, e cai nas graças do ricaço. Este encontra-se muito doente e faz questão de apresentar Chance à alta sociedade de empresários e até do presidente da república. Ele torna-se conhecido e considerado extremamente sábio, mesmo diante das palavras mais simples e naturais que ele diz.
Finalmente, Eve, a mulher de Rand, apaixona-se por Chance e tenta seduzi-lo, mas Chance não possui malícia para se deixar envolver pela mulher.
Seu amigo Rand morre e pede a Chance que cuide de Eve, com o que ele concorda.
O interessante no filme, mais do que o enredo, é a paixão de Chance pela TV. Ele não sabe ler, nem escrever, não tem carteira de identidade, e se informa apenas pela televisão.
Sua obsessão é tão grande pelo aparelho, que onde chega pergunta se existe TV, pois ele gosta de assistir. Quando assiste aos programas, procura imitar o que os apresentadores estão fazendo. Mesmo quando Eve tenta beijá-lo e se relacionar com ele, Chance consegue beijá-la apenas quando vê um casal o fazendo na TV. Ele mostra-se uma pessoa ingênua e que age sempre com naturalidade. Tudo que sabe é porque viu na TV.
O filme mostra como a televisão manipula e massifica as pessoas, fazendo com que se tornem indivíduos que absorvem as informações prontas, sendo incapazes de refletir sobre as mesmas, a fim de formar suas próprias opiniões.

Chance, personagem do filme, não consegue representar a realidade em sua mente a não ser pelo uso da televisão. Ela se torna o objeto responsável pela criação e representação de conceitos e valores para ele, uma vez que o mesmo perde esta capacidade e sempre espera que o objeto o faça por ele. Isto acarreta na perda de sua subjetividade e identidade, uma vez que passa a depender da tecnologia.
Pensando no processo educativo, a TV pode colaborar para que o mesmo aconteça, mas não é eficaz quando se torna a responsável total pelo mesmo. Creio que os professores podem e devem lançar mão deste recurso tecnológico como importante fonte de informação e formação de opinião, porém, há necessidade de orientar os alunos sobre o quê e com que olhar assistir aos programas por ela veiculados. A intencionalidade de cada programação e de seus apresentadores não pode ser deixada de lado, pois se constitui em importante instrumento a serviço da educação ou da alienação.